Uma fadista à chuva
Junho 14, 2010
Dia de Portugal. Por volta das 19h30.
Junto ao Museu do Fado, muitas pessoas (não nasci com o mínimo talento para estimativas) assistem ao concerto de José Manuel Neto.
A convidada do guitarrista naquela tarde é Aldina Duarte. Poucos minutos antes de ela subir ao pequeno palco começa a chover.
A princípio é uma chuva quase imperceptível mas a pouco e pouco, torna-se um pouco mais densa. Não é um dilúvio mas vai incomodando quem está a descoberto. José Manuel Neto termina. As palmas que se ouvem (muitas e justas) já estão debaixo de chuva.
Aldina Duarte sobe ao palco. Canta um fado. Emudeço.
A chuva continua. No público alguns usam jornais, outros, mais prevenidos, chegam a abrir chapéus-de-chuva. Uma turista japonesa enfia, com a ajuda do marido (um turista japonês), um saco de plástico na cabeça.
Ninguém, que eu tenha reparado, saiu.
Aldina avisa que o segundo fado vai ter de ser o último. "É que está a chover a sério". E estava. Não era um dilúvio, não era. Mas chovia.
E enquanto a via ali, em cima de um palco estreito, a cantar... "Espelho meu diz a verdade, da idade da saudade, à mulher envelhecida". Enquanto a via a cantar, e a deixar cair, como habitualmente, todas as defesas, pensei como aquela era a mais perfeita imagem para ela.
Pode continuar a chover, um dilúvio ou uma chuva passageira, mas ela vai estar ali. Vai continuar ali.
Aldina Duarte, a fadista à chuva.