Chegar aos trinta e duvidar se sabemos mais agora do que sabíamos há 20 anos
Novembro 17, 2015
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Novembro 17, 2015
Novembro 07, 2015
O fumo, ao longe, em formato de coluna salomónica. Uma fábrica a crescer sobre si mesma à distância. Um, dois, três carros. Não vale sequer a pena contá-los porque se misturam e passam a ser, alternadamente, um só e milhares. O comboio vai sinalizando a sua passagem com onomatopeias que se parecem com brisas. E a janela do comboio deixa de ser uma réplica de um ecrã em andamento. O cenário altera-se mas é o fumo ao longe que lhe captura o olhar. A resiliência de uma coluna de fumo que, por mais que ele avance, repisando o rasto férreo dos carris, não se afasta nem se deixa perturbar. A fábrica torna-se mais pequena mas cresce aos seus olhos.
O dia não vai ser fácil. Não costuma ser. Um clique (ou um "clic") junta-se ao som das brisas passageiras. Dois cliques. Um silêncio maior do que o anterior. Um "clic". O revisor aproxima-se sem nunca olhar pela janela. Devolve ao cenário exteior uma indiferença glacial. A fábrica que cresce sobre si mesma é apenas uma fábrica. A coluna de fumo é indistinta.
O rapaz, que se chama Rui, remexe a mochila, bolsa por bolsa. Distraiu-se com o fumo, com a fábrica. O bilhete está na bolsa mais escondida e só o encontra quando o revisor já está a poucos cêntimetros de si. Clique, clic. O comboio pára, ninguém sai. Nunca ninguém sai nesta estação, mesmo com os belos azulejos que a cobrem. O comboio avança mais uma vez, aos soluços. O dia não vai ser fácil, os dias não o costumam ser, principalmente um dia destes. Da categoria dos inéditos. O dia em que o país mais ocidental da Europa se vai partir em dois.
Novembro 03, 2015
Estava a comer um prato de gnocchis quando a Vera Moutinho me falou, pela primeira vez, do Eduardo Jorge. Recordo-me do momento não porque os gnocchi estivessem memoráveis - estavam insípidos - mas porque percebi que o que vinha dali valia ouro. Foi há quase um ano e o tempo aqui não é um pormenor. Foi por causa dele que a Vera conseguiu embrenhar-se na vida do Eduardo - um dos rostos mais visíveis da luta por uma vida independente em Portugal - e que ele permitiu que ela o fizesse dessa forma. Foi também o tempo que lhes trocou as voltas: sobretudo ao Eduardo mas também à Vera.
O que é isso de vida independente, uma reportagem de Vera Moutinho
É o tempo que, por fim, sobre nós se prolonga ao longo deste trabalho, num percurso sem prazos nem ardis, que nos inclui sem nunca nos sentirmos intrusos em casa alheia. Mérito da Vera e da genuinidade do Eduardo. Volto a ver o vídeo, termino, e não há quem me convença de que o Eduardo não é meu amigo.
Novembro 02, 2015
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