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Longitudinal

Amará o seu domador o antigo animal selvagem, hoje animal de circo?

Janeiro 29, 2018

lionqueen.jpg

 (The Lion Queen / Library of Congress)

 

“Amará o seu domador o antigo animal selvagem, hoje animal de circo? Pode ser que sim, mas não é obrigatório. Dependem ambos um do outro, de forma desesperada. Um precisa do outro para se inchar como sapo-rei, ajudado pelas habilidades daquele à luz dos holofotes, e para o Barrabás da música, o outro precisa deste para possuir um ponto de referência no meio do caos generalizado que lhe ofusca o olhar. O animal tem de saber o que fica por cima e o que fica por baixo, senão de repente aparece a fazer o pino. Sem um treinador, o animal estaria condenado a precipitar-se desamparado em queda livre, ou a vagar à deriva no espaço e estralhaçar com dentes, garras e goelas, sem critério, tudo que se lhe cruza no caminho. Porém, assim, há sempre alguma pessoa que lhe diz o que vale a pena fruir. Às vezes, o objecto da fruição é-lhe já servido pré-mastigado ou cortado em bocados. A busca tantas vezes dilacerante de comida é por completo abolida. E com ela a aventura na selva. Porque nesta o leopardo ainda sabe o que é bom para si, e lança-lhe a garra, quer seja antílope ou caçador branco que descurou a guarda. O animal leva agora uma vida de contemplação durante o dia, meditando nas habilidades que tem de executar à noite. Aí, salta através de arcos em chamas, sobe para tamboretes, cerra as mandíbulas com estalido, envolve as gargantas sem as rasgar, executa passos de dança a compasso, com outros animais ou a solo, com animais aos quais se arremeteria à gorja se com eles topasse na estrada aberta da selva, sem trânsito em contrário, ou dos quais fugiria a sete pés se ainda estivesse a tempo. O animal traz uns disfarces amacacados sobre a cabeça ou o dorso. Já outros foram vistos montando cavalos, todos arreados de couro! E o seu amor, o domador, faz estalar o chicote! Ora louva, ora castiga, é o conforme. É conforme o merecimento do animal. Mas nem o domador mais refinado teve algum dia a ideia de enviar para a estrada um leopardo ou uma leoa com uma caixa de violino a tiracolo. Um urso de bicicleta é já o mais extravagante que uma pessoa consegue imaginar.”

 

(A Pianista, Elfriede Jelinek)

Tele-passadismo: os Jogos Sem Fronteiras

Janeiro 12, 2018

 

 

Acabou tudo num bacalhau com natas às nove da manhã. (Na verdade acabou um ano depois, quando Portugal deixou de participar nos Jogos Sem Fronteiras). Mas a noite de Agosto de 1997 em que, pela última vez, uma equipa portuguesa ganhou uma final desse concurso de televisão, terminou já na manhã do dia seguinte com um prato de bacalhau com natas. Nessa noite, uma forte chuvada, seguida de raios e coriscos, fez adiar a gravação do programa e daí a refeição planeada para a meia-noite ter sido transportada para nove horas mais tarde. Esperemos que ainda quente.

Vinte anos depois dessa final, que sagrou campeã a equipa da Amadora, alguns participantes (o treinador, o seleccionador das equipas, dois atletas e o apresentador) regressam ao seu próprio álbum de memórias para falar de um programa que ainda não lhes sai da cabeça. E o mesmo poderiam dizer gerações de portugueses.

 

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No especial do jornal PÚBLICO, há ainda a oportunidade de experimentar um jogo retro inspirado nos Jogos Sem Fronteiras chamado "Em Busca do Joker" (obra do Miguel Cabral) e folhear o manual desta final de 1997.

 

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