Vamos lá ver se consigo explicar isto bem
Outubro 11, 2021
(The Houses of Parliament, Sunset, Claude Monet)
Vamos lá ver se consigo explicar isto bem. Das traseiras da minha casa vejo prédios. De vez em quando, umas pessoas à janela, mas sobretudo prédios. Se abrir a janela da cozinha de par em par, vejo à minha esquerda a empena de um prédio que avança uns bons cinco metros para além do meu. É uma parede robusta, que reconhece a sua idade, na qual gostaria de ver desenhada alguma coisa. Se olhar em frente vejo duas filas de telhados, com telhas mais ou menos alaranjadas, mais ou menos enegrecidas, de acordo com a altura em que foram colocadas. Mais a frente, vejo três prédios mais altos, que cortam o horizonte. São eles próprios a linha do horizonte. Um é cor de rosa, o maior. Os outros dois já devem ter sido amarelos há muitos anos. Há outros prédios em frente depois desse mar triangular de telhados. Mas aquilo que me prende o olhar é o topo de um prédio mais alto, a uns bons 300 metros de distância. Dele apenas vejo uma especie de chaminé. Umas telhas pequenas, porque distantes. E ventiladores, daqueles simulacros de bola de espelhos que tornam telhados numa pista de dança vazia enquanto há Sol. No Verão, pelas 20h30, todos os prédios ao redor da minha casa descobrem-se pequenos de mais para se esticarem rumo à luz apaziguadora do final da tarde. Mas o topo desse outro prédio permanece ainda dourado durante uns minutos. Fico a olhá-lo, minuto a minuto, detido nesse eclipse vagaroso até os ventiladores perderem o seu cintilar. Faz-se noite no meu bairro.