Escrevo.
Fevereiro 05, 2022
(Office in a Small City, Edward Hopper)
Escrevo porque não quero falar. Comecei a escrever quando as letras ainda ocupavam um lugar estranho, quando ainda não sabia bem como as casar umas com as outras. Falo de letras, não de palavras. As palavras, as frases vieram depois.
Escrevo porque falar me cansa. Continuei a escrever, mesmo quando as frases, todas seguidas, umas atrás das outras, me pareciam mais barulhentas do que a minha própria fala.
Escrevo como se não conseguisse falar. Uma página num computador parece ainda mais branca porque podemos aumentar a luminosidade do ecrã. Escrevi nessas alturas porque preencher essa brancura era uma forma de me manter calado.
Escrevo porque quero falar cada vez mais baixo. Quando olho para um texto acabado de nascer, congratulo-me por saber que se eu quiser mais ninguém o lerá. Sei que o posso apagar, basta pressionar uma tecla durante o tempo necessário. Posso guardá-lo e ficar a ouvi-lo a ecoar numa pasta de computador.
Mas também escrevo porque, por vezes, gosto que esse eco consiga escapar.