Marias da Paz
Março 11, 2024
Nestas eleicões calhou-me acompanhar uma secção de voto composta em exclusivo por mulheres, um quase monopólio de Marias de todos os tipos. Marias Augustas, Marias Benvindas, uma ou outra Maria da Paz. Nomes próprios na sua maioria de outro tempo. Assim que me apercebi desta circunstância, refreei alguma da ansiedade com que iniciei o dia. Confio na sageza e na humanidade das Marias. As da Anunciação, as de Fátima, as de Lourdes ou de Lurdes, das simplesmente Marias, que são poucas. Mesmo daquelas que nem se chamam Maria. A certa altura, olhei para a urna, já o dia ia longo, e imaginei os boletins amontoados, cada um a falar para os seus botões, mas também umas com os outras. As Marias do Rosário com as Marias Carolinas, a responderem logo depois às Marias do Céu e às Marias do Carmo. Quantas vozes se acumulam numa caixa negra... Num avião, as caixas negras (que na realidade são laranjas ou vermelhas) registam variações na altitude e na velocidade, mensagens e conversas e ouvimos falar delas apenas nos dias maus. Os dias de eleições podem ser dias bons e maus, muito bons e muito maus. Quando abrimos uma das caixas negras, alargamos a conversa que aqueles votos estiveram a ter durante um dia inteiro. Depois a cavaqueira alarga-se e, tantas vezes, degenera. As Marias não me desiludiram muito, no entanto não posso afirmar o mesmo em relação ao resto da conversa. O que estarão agora a pensar as Marias da Paz?