Rua Garrett (pelas 17 horas)
Dezembro 21, 2009
Não há nenhum momento que nos pertença exclusivamente. Alguém já o viveu ou alguém o vai viver. E isto tudo muitas e muitas vezes. Há uns dias estava a descer a Rua Garrett e um miúdo à minha frente viveu exactamente o mesmo momento que eu vivi quando tinha mais ou menos a idade dele (e que muitos outros miúdos viveram também, claro). Estava a andar pela rua com o meu pai ao lado quando vi, ao longe, um homem estátua. Olhei-o, mais com medo do que com curiosidade (ou então a curiosidade também tem alguma coisa de cagarolas e passa tudo pelo mesmo). O meu pai entregou-me uma moeda e acompanhou-me até eu a deixar cair no caixote onde já estavam outras tantas. Ao barulho do metal ele respondeu inclinando-se para mim e sorrindo. Não deixei de ter medo mas o resto do dia fiquei a pensar naquilo. O miúdo viveu o mesmo, tenho a certeza. E eu acompanhei-o em silêncio.