Estado Actual #33
Setembro 06, 2012
Perdemos o vento a silvar entre tapa-ventos, guarda-sóis estandardizados, selvas de pano colorido enterrados pela areia… E a praia tornou-se um cemitério no qual nos enterramos voluntariamente. De modo lento, conscientes da distância que a maioria procura cumprir, começam a arrastar-se à minha volta. Vejo dezenas de famílias a chegar. Chegam tão tristes e vagarosas, aborrecidas desde o primeiro minuto. Aburguesando-se aos poucos num piquenique frugal de iogurtes diet, sanduíches leves e bocejos. Nem uma talhada de melão, nem um só damasco, nem "pão-de-ló molhado em malvasia".
Abandonámos os elementos naturais. O mar é apenas paisagem que se subjuga, com a excepção de algumas vagas cuja obstinação não esconde, ainda assim, o seu propósito cenográfico. Rebolamos nas ondas com a mesma vontade com que nos dirigimos todos os dias, à mesma hora, em direcção ao emprego. E mergulhamos, depois de uma entrada medrosa, sem o fulgor que a água fria de outros tempos nos exigiu durante anos. O tédio apoderou-se do estio, e em cada par de seios procuramos, sem nunca desfrutar, "o ramalhete rubro das papoulas". O Verão acabou. Não apenas por agora e durante três estações.
O Verão acabou.