Monsanto, seis e meia da manhã
Julho 28, 2021
Aguardava o nascer do Sol. No entanto os pássaros chilreavam há muito e da cidade já se ouviam os seus ruídos habituais, aqueles que nos garantem que ela já acordou - ou melhor, que nunca chegou a adormecer. O comboio a forçar os carris na sua jornada, os motores dos carros aqui e ali. Um silvo metálico cuja origem ficou por identificar. Um avião que cortou a paisagem, precisamente no local para onde os olhos, expectantes, apontavam na esperança de ver uma nesga do nascer do Sol.
Ele aguardava o nascer do Sol. No entanto, os pássaros continuavam a embalá-lo numa espécie de canto que pressagiava qualquer coisa de inicial. Se por aqui galos houvesse, eles ja teriam cantado. É uma afirmação, nao é uma interrogação. No entanto as plantas, as árvores - as pedras também - pareciam dormir ainda. Talvez fossem como a cidade, que nunca dorme. Ou melhor, que dorme quando adormecemos, e partilha connosco noites de insónia, tal como os melhores animais de estimação o fazem.
Naquela manhã de Julho... Já seria manhã? Ou ainda era madrugada? Agora são mesmo interrogações. Naquela manhã nebulosa de Julho, ele aguardava o nascer do Sol. No entanto, a luz já era total. Talvez o Sol tivesse nascido nas suas costas, enquanto tudo o resto acordava.
(escrito no Miradouro do Moinho das Três Cruzes, na floresta de Monsanto, durante o encontro Caminhar e Escrever - Ao Nascer do Sol, organizado pela Escrever Escrever)